Good bye dear friend!
Estamos cansados de saber que o mercado brasileiro de automóveis é uma verdadeira anomalia. Cobramos impostos absurdos, somos extremamente protecionista/burocráticos e deixamos as empresas lucrarem como querem.
Por isso, o simples fato de se adquirir um carro no Brasil, quando não se trata de pura necessidade, é um verdadeiro ato de paixão. Se for um esportivo, é a maior declarações possível de amor.
O que dizer então de quem compra um Pagani? É bem provável que aqueles que tiveram a honra de ser proprietário do único Pagani já emplacado no Brasil são alguns dos maiores amantes de carros do planeta.
Eles são parte integrante de uma incrível história que você provavelmente contará para seus netos, a saga daqueles que tentaram transformar o mercado automotivo de luxo brasileiro em algo sério. Uma história que começa com a abertura da Platinuss, em 2007, e terminou, de força absolutamente fracassada, com a despedida do Pagani Zonda F Clubsport.
A Platinuss abriu suas portas com uma proposta ambiciosa, porém louvável, ser a representante oficial Pagani, Koenigsegg e Spyke no Brasil. Tudo começou muito bem, a exportadora conseguiu montar um estoque sem precedentes, que provavelmente nunca será repetido, e rapidamente tornou-se a maior importadora não oficial Lamborghini do país.
Entre máquinas sensacionais, carros como Pagani Zonda R, Koenigsegg CCXR E100 Platinuss Special, Bugatti EB110, Spyker C8 Laviolette SWB e Ferrari F50, estava o maravilhoso Pagani Zonda F Clubsport o nº 07 de apenas 25 construídos no mundo.
Ele foi um dos únicos esportivos fora de série, ou hypercars como são conhecidos hoje, que foi comprado. Custando, na época, R$ 4 milhões de reais.
O promissor modelo de negócio inaugurado pela Platinuss, logo se provou insustentável. O mercado brasileiro não estava, e ainda não está, preparado para absorver carros como esses na velocidade necessário para o negócio ser manter. O resultado? Em 2011 a exportadora fechou suas portas.
Uma notícias que pegou de assalto todos os gearheads dos país, era o fim de uma era.
O Zonda F Clubsport foi uma das poucas heranças deixadas pela importadora, mas não é tarefa fácil manter um carros desse no Brasil, por isso ele acabou passando seus anos mais em concessionária à venda, do que efetivamente rodando ou em garagens particulares. Um triste destino para um carro como esse.
Anos depois, já em 2015, o Zonda F permanecia aguardando um novo proprietário, parecia que demoraria para aparecer um novo interessado. Foi então que o dólar começou a disparar.
Corrupção, ressecção, pedaladas fiscais, inchamento da máquina pública, rebaixamento da nota de investimento, crise de confiança e ameaça de impeachment. O dólar foi as alturas.
Com essa nova realidade econômica, passou a ser extremamente interessante para os estrangeiros, em especial os Europeus, adquirir esportivos brasileiros usados. A título de exemplo, uma Mercedes SLS AMG ano 2011 custa US$ 110 mil no mercado brasileiro (cerca de R$ 440 mil), enquanto na Europa é vendido por US$ 150 mil a US$ 180 mil (R$ 600 mil a R$ 720 mil) dependendo das condição do carro.
Além de mais baratas, as SLS brasileiras costumam ser muito poucos rodadas. Culpa de outra triste mentalidade brasileira, que acredita que esportivos 2011 com mais de 14km são muitos rodados.
Como o mercado automotivo europeu é maduro, possui empresas competentes no setor, tributação equilibrada e prioriza o consumo, eles não precisam recorrer a políticas protecionistas covardes. Por isso não existem restrições absurdas a importações, tributações escalonadas e medo da inovação.
Esqueça essa história de só pode importar carros novos ou com mais de trinta anos, isso é política de país que necessita proteger uma indústria pouco inovadora e um mercado sucateado.
Diante desse panorama, a cada dia nossa já ínfima frota de esportivos, diminui.
A última vítima dessa exportação de usados é justamente o Zonda F, o carro foi vendido para a Inglaterra no final do ano passado. Perdemos o único Pagani brasileiro.
As pessoas se comoveram com a saída do Zonda do país, em grupo e páginas gearheads escutamos coisas como “ele deveria ser patrimônio nacional” e “deviam proibir ele de ir embora”. A tristeza geral é compreensível, já que sua despedida sacramenta o fim de era Platinuss.
Na mala, o Pagani leva todos os nossos sonhos e esperanças de um mercado automotivo brasileiro sério.
É com muita dor no coração que vou dizer isso, mas que bom que ele se foi. Agora estará em lugar melhor, aonde é tratado como a preciosidade que ele realmente é. Um carro desses não merece rodar em nossas terras, o Brasil não merece ter esse privilégio.
Fotos:
[Elero automotive Photography] [ThisCarThatCar_] [Ed Cunha PH]